Conhecer o trajeto anatômico do nervo facial é muito importante para a localização de suas lesões e para a compreensão das consequências que elas podem causar.
O nervo facial, também denominado com nervo intermédio-facial, é frequentemente o mais afetado do corpo humano (Fernandes e Lazarini, 2006), porque esse nervo percorre um longo trajeto circular, atravessando a região do ângulo pontocerebelar e dirigindo-se ao meato acústico interno, onde penetra em um estreito canal ósseo, conhecido como canal de Falópio (BENTO, 1998).
Segundo Brodal (1984), o nervo facial contém aproximadamente 10.000 fibras. Destas, 7.000 fibras mielinizadas inervam os músculos da expressão facial, do músculo estapédio, dos músculos retroauriculares, o ventre posterior do digástrico e o platisma. As outras 3.000 fibras constituem o nervo intermediário, secretomotoras e sensitivas.
O nervo facial percorre um trajeto complexo, dividido em vários segmentos, desde sua origem no córtex até sua chegada a musculatura facial. Esses segmentos são supranuclear, nuclear e infranuclear (Colli, e cols., 1994) (Fernandes e Lazarini, 2006).
O segmento supranuclear fica localizado na região lateral e inferior do córtex cerebral motor, posicionado no giro pré-frontal do lobo frontal. Nesta região os impulsos elétricos são responsáveis pela motricidade da musculatura facial (Machado, 1986).
A geração de informações no córtex motor transita pelo trato corticonuclear, juntamente com o trato corticoespinal, seguindo em direção ao tronco cerebral. Estas fibras passam pelo joelho da cápsula interna, seguem pelo pedúnculo cerebral médio e, ao chegar à porção média da ponte, as fibras do trato corticonuclear se separam do trato corticoespinal e atingem o núcleo facial. Uma parte do feixe de fibras corticonuclear cruza a linha média e se dirige ao núcleo facial contralateral, enquanto a outra parte termina no núcleo facial do mesmo lado (Fernandes e Lazarini, 2006).
As fibras responsáveis pelos músculos da porção superior da face (m. frontal, m. corrugador do supercílio, m. orbicular dos olhos) são derivados tanto do hemisfério cerebral ipsilateral como do contralateral. As fibras que inervam a porção inferior da face (m. orbicular da boca, m. bucinador e m. platisma) também recebem inervação de ambos os hemisférios, porém as fibras do hemisfério contralateral são fisiológica e numericamente mais representativas do que o hemisfério ipsilateral (Fernandes e Lazarini, 2006).
Estímulos relacionados com controle motor emocional, com a deglutição e com os reflexos ligados a estímulos táteis, sonoros e visuais possuem outras regiões cerebrais envolvidas, além do córtex motor (Zemlin, 1998).
As estruturas envolvidas, descritas por Fernandes e Lazarini (2006) são:
O núcleo sensitivo principal do trigêmio que envia fibras ao núcleo facial e responde ao reflexo trigêmio-palpebral (fechamento palpebral após estímulo doloroso na face ou globo ocular), trigêmio-facial (contração dos músculos orbiculares das pálpebras após a percussão da região entre as sobrancelhas) e córneo-palpebral (contração dos músculos orbiculares das pálpebras após estímulos provocados na córnea).
O núcleo espinal do trigêmio que levam informações da sensibilidade cutânea do meato acústico interno, do pavilhão auricular e da membrana timpânica.
O núcleo do trato solitário que recebe informações relacionadas aos estímulos gustativos vindos do nervo corda do tímpano, caminhando pelo nervo intermédio.
O corpo estriado e substância negra que recebem sinais do córtex motor por vias extrapiramidais e modificam estes estímulos para que possam ser executados de maneira harmônica e precisa.
O globo pálido que age no refinamento dos movimentos, o hipotálamo que é uma estrutura constituída por diversos núcleos e tem a capacidade de produzir modificações com relação ao estado emotivo e o tálamo responsável por receber estímulos sensoriais de diversas regiões do corpo, integrando-as e reenviando-as para outras estruturas cerebrais. “Estas estruturas parecem desempenhar papel importante no controle motor relacionado com a emotividade, programando e ativando músculos para que haja conformidade com os sentimentos” (Fernandes e Lazarini, 2006, p. 3).
O núcleo rubro e formação reticular mesencefálica que estão envolvidos com as vias de controle do sistema motor emocional, produzindo contrações espontâneas na musculatura facial relacionada com a emotividade.
O colículo superior que desencadeia reflexos com a contração dos músculos faciais, em especial o músculo orbicular dos olhos, durante a exposição a estímulos luminosos.
O complexo olivar superior emergido na localização do som, principalmente de baixa frequência, que desencadeia o reflexo de contração do músculo do estribo diante de estímulos sonoros intensos.
O núcleo lacrimal e núcleo salivatório superior que envolvem a intensa estimulação da glândula lacrimal ante estímulos táteis ou presença de corpos estranhos nos olhos.
Agora com relação ao segmento segmentar, este apresenta o núcleo facial como o mais desenvolvido entre os núcleos motores do tronco cerebral, sendo justificados no alto desempenho da flexibilidade da movimentação dos músculos mímicos, permitindo movimentos delicados e precisos (Fernandes e Lazarini, 2006).
O segmento infranuclear surge na porção ventrolateral do sulco bulbopontino, na saída das raízes nervosas do VII par. A partir de sua emergência do tronco cerebral é dividido anatomicamente em segmentos pontino, meatal, labiríntico, timpânico, mastóideo e extracraniano (Brodal, 1984).
BENTO, R. F. Doenças do Nervo Facial. In: BENTO, R. F.; MINITI, A.; MANORE, S. Tratado de Otologia. Cap. 11. Pag. 427-429 Edusp. São Paulo. 1998.
BRODAL, A.: O nervo intermédio-facial. In: Anatomia neurológica com correlações clínicas. 3. ed. São Paulo: Roca, 1984.
FERNANDES, A. M. F. e LAZARINI, P. R. Anatomia do Nervo Facial. In: LAZARINI, P. R. e FOUQUET, M. L. Paralisia Facial: Avaliação, Tratamento e Reabilitação. São Paulo; Lovise, 2006.
MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu, 1986.
ZEMLIN, W. R. Princípios de Anatomia e Fisiologia em Fonoaudiologia. 4ª ed.; Porto Alegre: Artmed, 2000.
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