terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Espelho


Na paralisia facial periférica percebo que é muito comum um grande sofrimento no momento de se olhar no espelho.
O primeiro momento é o choque, principalmente pelo fato de encarar uma face completamente alterada.
Depois é muito comum não entender e acreditar no que está acontecendo.
E por qual razão este impacto é tão grande?
Se pensarmos que a função do espelho é refletir o que incide sobre ele e que a imagem vista após a paralisia facial periférica é outra, ou seja, pouco reconhecível pelo próprio sujeito, o impacto então é proporcional a esta alteração.
Olhando um espelho comum, vemos a nossa imagem com mesma forma e tamanho. Pense: a imagem da qual estávamos acostumados há tanto tempo se modificou... e agora o que fazer?
Claro, com o tempo há a regeneração e em grande parte dos casos (ainda bem) há uma recuperação total! Mas mesmo assim, isso vira uma marca na história de cada sujeito que sofre com a paralisia facial e até olhar-se no espelho e esquecer o ocorrido demora um certo tempo. Em muitos casos isso não passa.
Mas vou compartilhar algo que me ajudou muito: um livro chamado "Espelho" e este será o transcorrer desta conversa.
Este livro chegou ao meu encontro próximo a uma data muito importante: o dia anterior ao meu exame de qualificação no Mestrado.
MInha intenção na livraria era presentear minha banca e minha orientadora com algo que refletisse aquele momento, mas demorou para achar algo especial, tanto que pensei em desistir, mas sempre que vou a livraria passo pela seção de livros infantis e lá achei o livro! Bem na minha cara!
O título, primeiro, chamou grande atenção. Fiquei curiosa...
A menina da capa, apresentada de maneira retraída e misteriosa me convocou imediatamente a folheá-lo.

Outro fato, foi descobrir que o livro dizia por si por meio de ilustrações. Isso é encantador!
Quando comecei a folheá-lo tive uma sensação difícil de ser transmitida por meio da linguagem, mas meu corpo respondeu a essa emoção, como poucas vezes ocorreram em minha vida.
Engraçado que ainda revivo esta sensação de maneiras e em momentos diferentes.
Ao longo deste ano, principalmente, diria que as páginas passaram um tanto rápidas e chegaram um tanto de vezes ao seu fim, mas se iniciaram novamente.
Percebo hoje que posso voltar a uma página ou passar por todo o seu ciclo quantas vezes eu me permitir.
Desde que conheci esse livro, compartilho com muita gente e gosto de observar como as pessoas folheiam e como elas retornam ao início quando chegam em determinada página, aí folheiam com outra expressão, com mais cuidado e carinho, tentando captar todas as informações e entendê-las. 
Percebo, que este modo de ver o "Espelho" diz muito sobre si mesmo.
Quando chegam ao fim, há uma certa confusão e surpresa.
Sua página final é silenciadora. Posso dizer que, particularmente, me paralisou, mas é impressionante, pois depois me transformou... e continua transformando.
Esse livro, de forma simbólica, passa um pouco do que refletimos para o outro e muito do que vemos em nós mesmos.

FONTE: LEE, Suzy. Espelho. Cosac Naify, SP. 2010.
Apresento algumas imagens ilustradas no livro de forma aleatória.